Professores do PPGECON/UFG analisam transformações do mercado de trabalho agropecuário em Goiás
Capítulo de livro discute mudanças históricas e recentes no meio rural brasileiro
A professora Adriana Ferreira Silva, do Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGECON/UFG) e da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas, assina, junto com o professor Waldemiro Alcântara da Silva Neto (que também integra o corpo docente do PPGECON e da FACE), o capítulo dedicado a Goiás no recém-lançado livro “Dinâmica econômica e o mundo do trabalho no Brasil Rural”. A obra reúne 61 pesquisadores de diferentes instituições brasileiras, com o objetivo de compor um retrato abrangente das mudanças históricas e recentes no meio rural do país.
No capítulo, os professores analisam as transformações do mercado de trabalho agropecuário e seus reflexos no desenvolvimento de Goiás. Para além da análise técnica, a contribuição reforça a importância de tornar a pesquisa acessível à sociedade, aproximando universidade, produtores, gestores públicos e demais atores ligados ao campo. Confira a seguir a entrevista na íntegra com a Professora Adriana.
- Professora, como foi o convite para participar do livro “Dinâmica econômica e o mundo do trabalho no Brasil Rural”?
O convite chegou por meio da profa. Nicole Rennó (ESALQ/USP), que apresentou os objetivos editoriais e o escopo analítico da obra, organizada por Nicole Rennó Castro, Júnior Ruiz Garcia (UFPR) e Zander Navarro. A proposta era compor um mosaico nacional com pesquisadores por estado, articulando diagnóstico histórico, transformações recentes e implicações para o mundo do trabalho rural. A temática atrai minha atenção e do prof. Waldomiro, que já temos desenvolvido estudos sobre o meio rural goiano.
- O que representa para você, enquanto pesquisadora, contribuir com um capítulo sobre Goiás em uma obra de alcance nacional?
É uma oportunidade de inserir a trajetória rural goiana num debate comparativo entre estados, mostrando como a modernização, a reestruturação produtiva e as dinâmicas de uso do solo em Goiás ajudam a entender o Brasil rural contemporâneo. Para além do orgulho institucional, trata-se de qualificar o debate público sobre temas centrais ao estado -emprego, produtividade setorial, especialização produtiva, formalização/informalidade e desafios de inclusão - com evidências atualizadas e leitura histórica.
Ao mesmo tempo, o livro foi concebido para interpretar o conjunto (e não apenas estudos setoriais isolados), reunindo 61 autores de 27 instituições, o que reforça a relevância do nosso aporte para compor esse retrato nacional
- O que você poderia destacar do capítulo que poderia contribuir para entender melhor a realidade de Goiás e do Brasil rural? Se tivesse que escolher um aspecto central do capítulo para apresentar a quem ainda não leu o livro, qual seria?
O destaque central é a reconfiguração do mercado de trabalho agropecuário em Goiás diante da modernização produtiva. De forma específica, o capítulo documenta: i) Queda tendencial da população ocupada em atividades tradicionais (arroz, algodão, pecuária extensiva) e ganhos de emprego em cadeias intensivas em tecnologia e logística (soja, cana), com maior exigência de qualificação; ii) Mudança na composição ocupacional, com avanço da formalização (emprego com carteira) e redução de trabalho não remunerado, ainda que a informalidade persista como desafio; iii) Transformações no uso da terra, com expansão agrícola e redução relativa de pastagens, evidenciando a intensificação (mais produção por área) e seus efeitos sobre a demanda por trabalho.
Esse conjunto ajuda a explicar por que e como Goiás mantém peso elevado no agronegócio ao mesmo tempo em que muda o perfil do emprego e eleva os requisitos de escolaridade.
Um aspecto central do capítulo a quem ainda não leu o livro, sem dúvida relaciona-se à mudança na composição do trabalho no meio rural goiano, com avanço do emprego com carteira e redução de trabalho não remunerado...
- Na sua visão, qual a relevância de tornar pesquisas, como a que foi desenvolvida por você e o Prof. Waldemiro, acessíveis para toda a sociedade?
A comunicação acessível (fácil leitura sem academicismo exacerbado) transforma as análises apresentadas no capítulo um bem público de amplo acesso. Ao disponibilizar séries de dados e mapas, buscamos ampliar a capacidade de agentes ligados à agropecuária, (prefeituras, produtores, sindicatos e formuladores de política) de agir sobre problemas concretos a partir de evidências históricas. Isso dialoga com o objetivo central da equipe editorial do livro — oferecer uma leitura acessível, integrada e histórica do Brasil rural, indo além de fragmentos setoriais.
- O que você mais gostaria que o leitor levasse deste capítulo?
Dois pontos são centrais:
A modernização da agropecuária goiana existe, mas não é homogênea. As oportunidades e os riscos (qualidade do emprego, informalidade residual, envelhecimento da força de trabalho) variam por região e cadeia produtiva.
Políticas importam: qualificação técnica (Agricultura 4.0), crédito e ATER, infraestrutura e regulação ambiental condicionam produtividade, uso do solo e qualidade do trabalho.
- Em termos de pesquisa e extensão, quais próximos passos ou novas investigações a senhora pretende seguir a partir desse trabalho?
A realização do estudo aumento nosso interesse em ampliar a compressão sobre o mercado de trabalho rural em Goiás, especificamente relacionadas a: aprofundar transições ocupacionais (jovens, gênero, qualificação), canais de formalização e novas ocupações digitais (sensoriamento, dados, automação).
Paralelamente também tenho desenvolvido estudos sobre temas transversais, como a compressão sobre a produtividade e clima no Cerrado: estimar e comparar PTF por microrregiões/biomas, incorporando choques climáticos (ex.: graus-dia, extremos térmicos/precipitação) e uso do solo (integração com MapBiomas) para identificar trilhas de intensificação sustentável e vulnerabilidades. Acabo de retorno de uma licença para pos doutorado na Universidade da Califórnia, onde pude desenvolver um estudo sobre a PTF no Cerrado, junto com o prof. Steven Helfand. Parte do trabalho já foi apresentado no 63° Congresso da Sober, cujos resultados chamam atenção pelo forte crescimento da PTF no Cerrado (acima da média nacional), ancorado por modernização tecnológica e intensificação, com maior volatilidade recente associada a choques climáticos.
Saiba mais em:
https://ufpr.br/recem-publicado-livro-aborda-a-economia-e-o-trabalho-no-brasil-rural/
Source: PRPG UFG
