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Doutorando do PPGECM, Gustavo Augusto Assis Faustino, e equipe de pesquisadores da UFG são classificados em 1º lugar no Prêmio SBPC 2024

Os discentes receberam o reconhecimento na categoria Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

 

A equipe, orientada pela Profa. Dra. Anna Maria Canavarro Benite (IQ - UFG), foi classificada em 1º lugar no Prêmio SBPC 2024 na categoria Ciências Humanas e Sociais Aplicadas! O trabalho foi realizado juntamente com os seguintes coautores: Gustavo Augusto Assis Faustino (Doutorando - PPGECM/UFG), Camilla Ferreira Alves (Graduação - ICB/UFG), Itallo Júnior Chaves dos Santos (Graduação - IQ/UFG), e Keythy Ravena Batista Nascimento (FE - UFG).

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Fonte: Acervo pessoal dos pesquisadores.
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Fonte: acervo pessoal dos pesquisadores.

A pesquisa, premiada no SBPC 2024, não somente preenche lacunas históricas na formação de professores, mas também lança luz sobre a necessidade de romper com a suposta neutralidade científica que predomina no ensino tradicional.

Durante a entrevista, os(as) pesquisadores(as) destacaram que, ao incluir essas perspectivas na formação docente, o objetivo é criar um ambiente educacional mais inclusivo, onde temas como as epistemologias racializadas e as questões de gênero sejam abordados de forma crítica e reflexiva. Confira a seguir a entrevista na íntegra.

Parabenizamos todos os demais ganhadores do prêmio! Acompanhe no link a seguir a relação com os participantes premiados: https://search.app/XpLVScCtNh8wUNiY8.

  • O que motivou a investigação das concepções femininas e identitárias na formação de professores/as de Ciências/Química?

A Ciência é estabelecida com base na divisão sexual do trabalho, permitindo apenas aos homens exercer o papel de cientista. A neutralidade científica também é construída nesse contexto, especialmente sob a perspectiva positivista, voltada para gerar progresso a todo custo. Como consequência, a natureza é profundamente expropriada, com seus recursos sendo esgotados em função da produção de lucro.

Transformar a escola em um local de resistência é essencial, mas para isso é fundamental atuar na formação docente. Considera-se que, as pesquisas sobre gênero e sexualidade na formação de professores/as de Ciências/Química veem aumentando nos últimos anos, mas apesar do aumento no número de estudos, ainda existem várias lacunas a serem preenchidas.

 

  • Qual é o principal objetivo da pesquisa? Vocês buscam explorar alguma questão específica sobre gênero e identidade na formação de professores/as?

Desenvolvemos uma pesquisa no âmbito de uma disciplina ministrada em um Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES). O objetivo desta investigação foi examinar, compreender e caracterizar o processo de formação dos/as pós-graduandos/as na elaboração de um seminário na disciplina, especialmente no que diz respeito aos conhecimentos e reflexões envolvidas na abordagem das questões de raça, gênero, classe e suas implicações na sociedade e no ambiente escolar. Nesse sentido, considera-se que a urgência da temática uma vez que o debate permeia o ambiente escolar, destarte, torna-se essencial à reflexão sobre as implicações desse processo formativo considerando sua contribuição para a formação de professores/as em Ciências/Química e os desdobramentos dessa temática.

 

  • Quais foram os maiores desafios ao abordar temas de gênero e identidade no contexto da formação de professores/as de Ciências e Química?

De acordo com Ladson-Billings (2006) e Gamson (2006), urge a necessidade da discussão política na arena epistêmica da produção de conhecimentos racializados, epistemologias étnicas e das sexualidades em pesquisas. Além disso, no ensino de Ciências/Química se mantêm diversas injustiças sociais e iniquidade em seus espaços, uma vez que não existe a neutralidade na hora de fazer ou ensinar Ciências, já que a pesquisa se faz como parte intrínseca da vida, como também a vida se espelha em nossa pesquisa.

No entanto, muitas vezes, quando estes conhecimentos são vistos e analisados sob uma perspectiva não hegemônica, é considerado algo menos especializado e sem rigor teórico-metodológico (LADSON-BILLINGS, 2006), pois é resultado da natureza dialética imaginada do outro sobre o de fora do limite normativo, culminando, no epistemicídio (NOGUERA, 2012).

Importa considerar aqui que não se trata de eliminar os conhecimentos produzidos até o momento, simplesmente pelo fato de terem sido consolidados/construídos por sujeitos brancos, monogâmicos e heterossexuais e/ou por se situarem numa perspectiva eurocêntrica e masculina. Trata-se de contrastar a epistemologia dominante discursiva a qual sempre definiu, distanciou e objetificou o outro, ou seja, intenciona-se definir os limites dessas sabedorias, bem como incluir novos pontos de vista, visibilizar e situar saberes e pessoas racializadas e com suas mais diversas sexualidades que foram, ao longo do tempo, apagadas na produção do conhecimento científico.

Tal objetivo se consolida, pois, muitas vezes, os conhecimentos realizados por pessoas não brancas, das dissidências sexuais e desobedientes de gênero, são apagados, reprimidos, distorcidos e até mesmo negados sob uma perspectiva e lógica cis-branca-mono-heteronormativa-eurocentrada.

Além disso, trata-se de numa iniciativa inédita no âmbito do Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde foi criada uma disciplina intitulada “Diversidade e Inovação: sobre gênero e raça nas Ciências” de natureza optativa, ofertada para os/as alunos/as regulares do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática - havendo também alunos/as especiais a este programa.

Numa iniciativa inédita, a disciplina estava prevista para ser ministrada no segundo semestre do ano letivo de 2020, mas em detrimento da pandemia da Covid-19, a disciplina ocorreu ao longo do primeiro semestre do ano de 2021, de forma remota com o uso da ferramenta Google Meet e com uma carga horária de 04 horas/aula semanais, perfazendo um total de 64 horas/aulas semestrais. O propósito da disciplina foi inserir na formação de professores/as em Ciências e Matemática, discussões sobre questões étnico-raciais, de classe e gênero.

 

  • Vocês já identificaram algum padrão ou insight nas concepções identitárias de professores/as em formação? Como as questões de gênero se manifestam nesse contexto?

Somos e fomos acostumados/as a discutir, desde muito cedo, as teorias, teoremas, modelos de metabólicos, equações químicas nas áreas ditas duras - Ciências/Química. Quando se trata, por exemplo, de discutir o papel e as relações de gênero, raça e classe na sociedade, comumente não é apresentado na formação de professores/as essas relações como um conceito e/ou uma teoria viva que explica as relações sociais.

Dessa maneira, um aspecto que perpassa esses debates é a informalidade. Nas Ciências/Química, a informalidade é construída para gerar o afastamento entre o discurso científico e as questões sociais. Parece, portanto, que ao discutir gênero e questões coletivas com os/as professores/as, os discursos tendem a se tornar mais informais, afastando-se dos aspectos científicos.

Ao trazer o aspecto da informalidade entendemos que é um dos mecanismos para afastar a questões de gênero da Ciência, pois se compreende que, ao falar sobre essas questões o conhecimento é desvinculado do contexto social, uma vez que a legitimidade científica é construída com base na neutralidade e objetividade. Importa reconhecer, também, que ao trazer as abordagens mais impessoais, sem perder a natureza do conhecimento científico no ambiente acadêmico, pode-se promover um aprendizado na formação de professores/as de Ciências/Química.

 

  • Como vocês esperam que a pesquisa contribua para a discussão sobre gênero e identidade na educação em Ciências e Química?

Implementando uma disciplina que debate as discussões sobre gênero, raça e classe dentro do próprio Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Goiás (UFG), os organismos formadores/as de profissionais das áreas ditas duras, a partir de agora começam a se comprometer com esse combate a modelos de ciência neutra. Dessa forma, esperamos estar inaugurando na UFG e no campo do Ensino de Ciências esse lugar e essas reflexões.

Para isso, é preciso romper com o modelo capitalista, patriarcal, racista, uma vez que, a maioria da população brasileira não se encaixa no padrão homem branco e há nesse modelo um apagamento de existências e produções diferentes. Sendo determinante que haja na formação inicial de professores/as de Ciências/Química das disciplinas que estabeleçam diálogo facilitado a essas perspectivas.

Além disso, discutir a partir das perspectivas feministas sobre o capitalismo, os bens comuns e os diferentes tipos de trabalho de cuidado pode romper com a neutralidade apresentada pela Ciência e escancarar as entranhas do capitalismo, ressaltando a importância de ter, na formação de professores/as em Ciências/Química, a abordagem de raça, gênero e classe para que os conceitos basilares presentes na formação dos/as professores/as não sejam ensinados/as desvinculados da realidade dos/as estudantes.

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Fonte: PRPG UFG

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